O que  está acontecer? Como a Academia está a responder à pandemia da COVID-19

22 de September de 2020

 

Figura 01: Produto final: álcool glicerinado. ©ISPTEC

 

Podemos concordar que nem tudo está a correr mal, certo? Sim, ainda bem que assim é. A título de exemplo, como antes mencionado, uma cadeia de acções positivas têm emergido de universidades locais em todo o país, representando, assim, uma rede de inovação local contra a pandemia, mapeada pelo Laboratório de Aceleração.   

Diversas intervenções funcionais, com ou sem base na tecnologia, foram criadas e implementadas para ajudar a mitigar o impacto da doença nas comunidades. Vale a pena referir que os inovadores por trás destas soluções relacionadas com a COVID-19 são profissionais angolanos, estudantes e (recém) licenciados, investigadores, engenheiros e muitos outros jovens e actores relevantes, que estão dispostos a ajudar a libertar-nos desta pandemia. 

Pronto para as boas novas? Aqui vão elas!    

Soluções Emergentes   

1.    INSTITUTO POLITÉCNICO SUPERIOR DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA (ISPTEC): PRIMEIRA PRODUÇÃO NACIONAL DE ÁLCOOL DE GLICERINA

A um ano de completar o décimo aniversário como instituição académica, o ISPTEC tem vindo a contribuir para a relevância científica e tecnológica do país. Com três grupos de graduados desde a sua existência, a comunidade estudantil do ISPTEC não está apenas a crescer em números, mas também a expandir  e aumentar o seu conhecimento em vários temás. Este progresso pode ser notado, também, ao olharmos para o seu constante empenho em concursos nacionais e internacionais de ciência e tecnologia, como o concurso da Fundação Calouste Gulbenkian, em que se destacaram e ganharam o primeiro prémio. Com esta conquista, têm agora a oportunidade de usar um kit de impressora 3D para materiais/equipamentos de segurança contra a COVID-19.   

 Por outra, depois das autoridades angolanas terem declarado o primeiro estado de emergência do país, em março, o ISPTEC anunciou a sua contribuição voluntária como parte do apoio académico para responder à pandemia. A ação inicial começou com a produção de três mil litros de álcool glicerinado, onde uma parte é destinada para uso interno e a outra para distribuição a uma unidade de saúde escolhida.  

 O estabelecimento de ensino conta-nos que puder contar com o apoio institucional e financeiro de entidades institucionais não só tem permitido que  a produção e distribuição do álcool glicerinado  seja gratuita, como  também continuar a dar vida a uma série de outras intervenções durante esta pandemia. Por exemplo, existe a produção de ventiladores respiratórios, a ser realizada em colaboração com outras instituições académicas. Da mesma forma, de modo a cumprir com os protocolos sanitários quando as actividades académicas forem retomadas e proporcionar um ambiente mais seguro para alunos e funcionários, está agora a ser projectado um túnel de desinfecção, que deverá ser colocado nas portas de entrada de pedestres. Soma-se, assim, ao número de iniciativas que estão a ser desenvolvidas para apoiar a situação actual.   

 

Figura 02: Ponto de higienização e túnel de desinfecção. ©UAN

 

2.    Universidade Agostinho Neto (UAN) - FACULDADE DE ENGENHARIA - PRODUÇÃO DE ESCUDOS FACIAIS PARA EVITAR TOQUES À FACE E VENTILADORES  

 A Universidade Agostinho Neto (UAN) é a maior universidade pública angolana, pertencendo ao grupo de conceituadas instituições de ensino superior do país que contribui com mais de 40 anos de experiência no ensino e investigação científica. Baptizada com o nome do primeiro presidente de Angola, a UAN é a instituição de ensino superior mais antiga do país e pioneira ao nível da investigação científica. A UAN também é a universidade mais difundida e pode ser creditada por ter a maior comunidade estudantil do país.  Em março, um grupo de 15 pessoas formadas em engenharia na UANjuntou-se, voluntariamente, para descobrir como poderiam contribuir para questões relacionadas à resposta à COVID-19, apresentando, como ponto de partida, a produção de protectores faciais para impedir que médicos e indivíduos toquem nos seus próprios rostos com as mãos, potencialmente infectadas.   

Projectos adicionais para a mesma causa incluem pontos de higienização e câmaras de desinfecção em locais públicos, como mercados informais e instituições públicas. Além disso, a produção de ventiladores para hospitais necessitados está em andamento. Estes projectos estão a ser todos sendo desenvolvidos no Yeto Lab, laboratório da universidade, equipado com equipamentos e ferramentas, como impressoras 3D, que são utilizadas na fabricação destes protótipos.

Esta principal universidade pública histórica já atraiu o interesse do Ministério da Saúde (MINSA), Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Informação (MESCTI), Associação dos Engenheiros e muitos outros que procuram acompanhar o progresso destes engenheiros. Por outro lado, enquanto buscam continuamente por  apoio financeiro , diversas instituições têm demonstrado interesse em apoiá-los financeiramente e podem eventualmente facilitar a aquisição da matéria-prima, conforme mencionado pelos inventores.  

3.    INSTITUTO POLITÉCNICO SUPERIOR JEAN PIAGET DE BENGUELA E NIBBLE SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS: 4/1 ROBOT CONTRA COVID-19   

ISP Jean Piaget na cidade de Benguela, localizada na região sul de Angola, é considerado um dos principais contribuintes para o desenvolvimento académico da área, nos últimos anos, em disciplinas como ciências da saúde, engenharia e outras.   

Em estreita parceria com a Nibble, uma pequena empresa privada de tecnologia, mantida por um grupo de engenheiros electrónicos e alunos a se formarem pela Jean Piaget da cidade, a universidade disponibilizou os seus laboratórios e outros apoios institucionais para ajudar a empresa no seu trabalho, que tem como foco principalajudar o país a responder à COVID-19.  

A Nibble apresentou, então,  a máquina de higienização NK 4/1, também conhecida como O Robot, que:   

1.        Mede a temperatura corporal, através de um termômetro embutido.  

2.        Desinfecta o corpo/roupas, por meio de um dispositivo de pulverização embutido.  

3.        Desinfecta as mãos, lavando-as com torneira de água automática.  

4.        Desinfecta o calçado, com um tapete preparado com uma solução bioquímica.  

Este NK 4/1 é uma tecnologia que deve ser usada em locais públicos, para que as pessoas contem com acesso necessário à água corrente e outras condições de saneamento. Algumas instituições públicas, como o hospital local de Benguela, o Instituto Superior Jean Piaget e o Instituto Superior de Ciências da Educação, adquiriram um protótipo NK 4/1, que está a ser utilizado. 

 

 

Todas as instituições acima citadas acabam por ser exemplos de muitas outras iniciativas por aí eretratam a vontade, a força, a criatividade de muitos  jovens (estudantes)  angolanos. Imagine só: sem aulas para assistir, nem provas para fazerem, devido ao encerramento das faculdades desde março, alguns optaram por se deitarem no sofá, enquanto outros decidiram enfrentar a pandemia de frente, soltando uma série de inovações capazes de salvar milhões. A nossa população angolana.   

Este é um artigo de 3 partes. Parte 1: O que  está acontecer? Como a Academia está responder à pandemia da COVID-19. 

Curioso por saber o que pode vir a seguir no campo académico de Angola? Leia nossa próxima e última peça sobre essas intervenções locais: Pensamentos futuros: O que pode ser feito para a Academia?