Investimentos no combate à tuberculose e malária com resultados positivos
19 de November de 2023
O Fundo Global investe anualmente mais de 4 mil milhões de dólares a nível global para combater a tuberculose e a malária para garantir um futuro mais saudável, mais seguro e equitativo para todos.
Em Angola, o Fundo Global disponibilizou uma subvenção de 103,2 milhões USD em Julho de 2021 para apoiar o Ministério da Saúde parceiros no combate ao HIV, a tuberculose e malária nas províncias do Cuanza-Sul e Benguela até 2024, no qual o PNUD tem o papel de Principal Recipiente.
Com relação as duas doenças em foco, esta subvenção pretende ajudar os programas nacionais de doenças a diminuir a incidência de tuberculose de 355 para 325 por 100.000 habitantes até 2023 (355 por 100.000 é a incidência estimada pela OMS em 2018) e reduzir em 40% a morbilidade e mortalidade da malária nas duas províncias.
Por meio de uma nova abordagem subnacional, e em estreita colaboração com o Ministério da Saúde (MINSA), a Visão Mundial Angola e a Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo (ADPP Angola), a subvenção tem apoiado o sistema de saúde local e garantido a continuidade dos serviços de tuberculose e malária desde os períodos mais críticos da COVID-19 e continua a contribuir para a saúde e o bem-estar de muitas famílias vulneráveis.
Entre as beneficiárias, destaca – se a jovem estudante, Teresa Baptista, de 26 anos que teve a amarga experiência de contrair a tuberculose, num momento crítico da sua vida académica.
“Quase pensei em desistir dos meus estudos,” diz Teresa, limpando as lágrimas. “Eu sentia muito cansaço, fraqueza e dor no peito com tosses. Se não fosse pela ajuda que recebo desse programa, eu já teria morrido,” afirmou.
Além de combater a tuberculose com o apoio do MINSA e do PNUD, Teresa teve de combater também o estigma. Apesar de receber os medicamentos de forma gratuita, ela diz que seu maior desafio após ter contraído a tuberculose tem sido enfrentar o estigma e a discriminação que tem sido alvo por parte das pessoas amigas, dos colegas na escola secundária de medicina e inclusive dos professores e dos vizinhos do bairro.
“Graças a Deus, a minha família não me abandonou,” diz Teresa. “Por isso vou continuar a estudar até me formar como uma médica especializada em tuberculose para ajudar os outros, assim como este projecto tem me ajudado,” afirma ela – esperançosa.
Com ajuda do parceiro de implementação, ADPP Angola, os agentes comunitários trabalham de perto com as comunidades na sensibilização e partilha de informações sobre a tuberculose para combater o estigma e a discriminação, bem como os conceitos errados associados à doença e aos pacientes. “A informação é fundamental para a transformação e modo de viver das pessoas,” diz Teresa. “Aqui no bairro, as vezes a pessoa basta ter paludismo, mas os vizinhos começam logo a suspeitar e a discriminar por falta de conhecimento e informação. Eu fico feliz por saber que este projecto também ensina as pessoas sobre os sintomas da tuberculose e como as pessoas devem se comportar com os doentes,” concluiu Teresa.
Assim como a Teresa, muitos pacientes de tuberculose têm se beneficiado da parceria entre o Governo de Angola, PNUD e do Fundo Global. Esta iniciativa permitiu Angola atingir cerca de 95% de sua meta de notificação de casos, uma indicação significativa de que os pacientes estão sendo encontrados. Entre esses casos, 80% pacientes foram curados da tuberculose, incluindo Eduardo Miguel, de 26 anos de idade.
Eduardo trabalha como alfaiate no mercado municipal do Sumbe e recuperou da tuberculose depois de seis longos meses de medicação fornecida de forma gratuita pelas unidades sanitárias locais.
“Sentia – me muito mal por se tratar de uma doença muito grave que requer muitos cuidados. Quase que perdi mesmo a moral, mas com ajuda dos agentes comunitários no aconselhamento e na aquisição gratuita dos medicamentos, ganhei ânimo, fiz a medicação e hoje estou totalmente curado da tuberculose,” conta Eduardo.
Menos casos de malária registados no Cuanza Sul
A malária continua a ser a principal causa de morbilidade em Angola e está entre as causas de morte mais comuns. Toda a população está em risco de contrair doenças, especialmente nas zonas rurais - e a província do Cuanza Sul não é uma excepção. Em resposta, o Ministério da Saúde, o PNUD e a World Vision têm facilitado a implementação de intervenções preventivas, consubstanciadas na distribuição em massa de rede de mosquiteiros e a aproximação dos serviços comunitários de saúde às comunidades rurais através dos agentes de desenvolvimento comunitário – Adecos.
Os Adecos providenciam testagem a nível da comunidade, permitindo que muitas crianças menores de 5 anos que ficam distantes das unidades sanitárias sejam testadas e tratadas nas suas residências, evitando com que o tratamento seja feito de forma tardia, contribuindo na redução de casos graves que apareciam nas unidades sanitárias de referência.
Isabel Gonga, camponesa de 46 anos e mãe de 7 filhos diz ter recebido quatro mosquiteiros através dos oficiais de saúde do MINSA e agradece as visitas regulares dos Adecos que, depois da distribuição dos mosquiteiros, têm dado aconselhamento e informações domiciliares a sua família sobre os cuidados que devem ter no combate à malaria.
“Os mosquiteiros têm nos ajudado muito na protecção contra os mosquitos,” conta Isabel. “Antes caminhávamos muitas distâncias com o filho doente, mas hoje já recebemos ajuda médica aqui em casa e assim não vamos ao hospital toda a hora,” diz ela mostrando o mosquiteiro que tem usado em casa.
De acordo com o coordenador provincial do Cuanza-Sul do programa de combate à malária na província do Cuanza Sul, Félix Espalhado, o Ministério da Saúde e parceiros distribuíram cerca de 1.316.020 mosquiteiros nos 12 municípios da província, constituindo uma cobertura de 90% da população total do Cuanza Sul e contribuindo para a redução dos casos de malária na província no ano de 2023.
“Antes da distribuição dos mosquiteiros no primeiro semestre de 2022, a província registou cerca de 423.249 casos de malaria,” diz Felix Espalhado. “No mesmo período do ano 2023, após a distribuição dos mosquiteiros, a província registou 382.030 casos, representando uma redução de 10% dos números de incidências de malária.”
Para o responsável provincial do programa de combate a malária, a redução observada em 2023 é resultado de um leque de actividades desenvolvidas pelo Ministério da Saúde, PNUD e parceiros, que garantiram a distribuição massiva e o uso de mosquiteiros, acesso ao diagnóstico e tratamento da doença, bem como na melhoria das competências dos prestadores de serviços.
Felix Espalhado acrescenta também que houve uma redução na incidência de óbitos na província graças a distribuição dos mosquiteiros e da intervenção dos agentes comunitários nos diferentes municípios. Dados recolhidos indicam que a província registou cerca de 800 óbitos causados pela malária em 2022 e 352 no ano de 2023, constituindo uma redução de cerca de 56% de incidência de malária.
O coordenador provincial considera que a forma eficaz de prevenir a malária seja o tratamento correcto e preventivo por meio de diagnóstico apurado e com medicamentos de qualidade. Neste âmbito, a província tem estado a observar um abastecimento regular na distribuição de medicamentos a nível de todas unidades sanitárias, assegurando assim o combate continuo à tuberculose e a malária nos 12 municípios da província do Cuanza Sul.
Fim