Investimentos no combate à tuberculose e malária com resultados positivos

19 de November de 2023
Isabel Gonga (46), beneficiária do programa nacional de controlo da malária na província do Cuanza Sul

Isabel Gonga (46), beneficiária do programa nacional de controlo da malária na província do Cuanza Sul

O Fundo Global investe anualmente mais de 4 mil milhões de dólares a nível global para combater a tuberculose e a malária para garantir um futuro mais saudável, mais seguro e equitativo para todos.

Em Angola, o Fundo Global disponibilizou uma subvenção de 103,2 milhões USD em Julho de 2021 para apoiar o Ministério da Saúde parceiros no combate ao HIV, a tuberculose e malária nas províncias do Cuanza-Sul e Benguela até 2024, no qual o PNUD tem o papel de Principal Recipiente. 

Com relação as duas doenças em foco, esta subvenção pretende ajudar os programas nacionais de doenças a diminuir a incidência de tuberculose de 355 para 325 por 100.000 habitantes até 2023 (355 por 100.000 é a incidência estimada pela OMS em 2018) e reduzir em 40% a morbilidade e mortalidade da malária nas duas províncias.

Por meio de uma nova abordagem subnacional, e em estreita colaboração com o Ministério da Saúde (MINSA), a Visão Mundial Angola e a Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo (ADPP Angola), a subvenção tem apoiado o sistema de saúde local e garantido a continuidade dos serviços de tuberculose e malária desde os períodos mais críticos da COVID-19 e continua a contribuir para a saúde e o bem-estar de muitas famílias vulneráveis.

Entre as beneficiárias, destaca – se a jovem estudante, Teresa Baptista, de 26 anos que teve a amarga experiência de contrair a tuberculose, num momento crítico da sua vida académica.

“Quase pensei em desistir dos meus estudos,” diz Teresa, limpando as lágrimas. “Eu sentia muito cansaço, fraqueza e dor no peito com tosses. Se não fosse pela ajuda que recebo desse programa, eu já teria morrido,” afirmou.

Além de combater a tuberculose com o apoio do MINSA e do PNUD, Teresa teve de combater também o estigma. Apesar de receber os medicamentos de forma gratuita, ela diz que seu maior desafio após ter contraído a tuberculose tem sido enfrentar o estigma e a discriminação que tem sido alvo por parte das pessoas amigas, dos colegas na escola secundária de medicina e inclusive dos professores e dos vizinhos do bairro. 

Teresa Baptista, junto de sua, filha fala do apoio que recebe do programa. @UNDP Angola / Leandro Lima

Teresa Baptista, junto de sua, filha fala do apoio que recebe do programa. @UNDP Angola / Leandro Lima

“Graças a Deus, a minha família não me abandonou,” diz Teresa. “Por isso vou continuar a estudar até me formar como uma médica especializada em tuberculose para ajudar os outros, assim como este projecto tem me ajudado,” afirma ela – esperançosa.

Com ajuda do parceiro de implementação, ADPP Angola, os agentes comunitários trabalham de perto com as comunidades na sensibilização e partilha de informações sobre a tuberculose para combater o estigma e a discriminação, bem como os conceitos errados associados à doença e aos pacientes. “A informação é fundamental para a transformação e modo de viver das pessoas,” diz Teresa. “Aqui no bairro, as vezes a pessoa basta ter paludismo, mas os vizinhos começam logo a suspeitar e a discriminar por falta de conhecimento e informação. Eu fico feliz por saber que este projecto também ensina as pessoas sobre os sintomas da tuberculose e como as pessoas devem se comportar com os doentes,” concluiu Teresa.

Assim como a Teresa, muitos pacientes de tuberculose têm se beneficiado da parceria entre o Governo de Angola, PNUD e do Fundo Global. Esta iniciativa permitiu Angola atingir cerca de 95% de sua meta de notificação de casos, uma indicação significativa de que os pacientes estão sendo encontrados. Entre esses casos, 80% pacientes foram curados da tuberculose, incluindo Eduardo Miguel, de 26 anos de idade. 

Eduardo trabalha como alfaiate no mercado municipal do Sumbe e recuperou da tuberculose depois de seis longos meses de medicação fornecida de forma gratuita pelas unidades sanitárias locais.

“Sentia – me muito mal por se tratar de uma doença muito grave que requer muitos cuidados. Quase que perdi mesmo a moral, mas com ajuda dos agentes comunitários no aconselhamento e na aquisição gratuita dos medicamentos, ganhei ânimo, fiz a medicação e hoje estou totalmente curado da tuberculose,” conta Eduardo.

Eduardo aconselha pessoas com sintomas de TB a se dirigirem aos hospitais mais próximas. @UNDP Angola / Leandro Lima

Eduardo aconselha pessoas com sintomas de TB a se dirigirem aos hospitais mais próximas. @UNDP Angola / Leandro Lima

Menos casos de malária registados no Cuanza Sul

A malária continua a ser a principal causa de morbilidade em Angola e está entre as causas de morte mais comuns. Toda a população está em risco de contrair doenças, especialmente nas zonas rurais - e a província do Cuanza Sul não é uma excepção.  Em resposta, o Ministério da Saúde, o PNUD e a World Vision têm facilitado a implementação de intervenções preventivas, consubstanciadas na distribuição em massa de rede de mosquiteiros e a aproximação dos serviços comunitários de saúde às comunidades rurais através dos agentes de desenvolvimento comunitário – Adecos.

Os Adecos providenciam testagem a nível da comunidade, permitindo que muitas crianças menores de 5 anos que ficam distantes das unidades sanitárias sejam testadas e tratadas nas suas residências, evitando com que o tratamento seja feito de forma tardia, contribuindo na redução de casos graves que apareciam nas unidades sanitárias de referência.

Isabel Gonga, camponesa de 46 anos e mãe de 7 filhos diz ter recebido quatro mosquiteiros através dos oficiais de saúde do MINSA e agradece as visitas regulares dos Adecos que, depois da distribuição dos mosquiteiros, têm dado aconselhamento e informações domiciliares a sua família sobre os cuidados que devem ter no combate à malaria. 

“Os mosquiteiros têm nos ajudado muito na protecção contra os mosquitos,” conta Isabel. “Antes caminhávamos muitas distâncias com o filho doente, mas hoje já recebemos ajuda médica aqui em casa e assim não vamos ao hospital toda a hora,” diz ela mostrando o mosquiteiro que tem usado em casa.

Isabel Gonga explica como usa os mosquiteiros em sua casa para prevenir a malária. @UNDP Angola /Leandro Lima.

Isabel Gonga explica como usa os mosquiteiros em sua casa para prevenir a malária. @UNDP Angola /Leandro Lima.

De acordo com o coordenador provincial do Cuanza-Sul do programa de combate à malária na província do Cuanza Sul, Félix Espalhado, o Ministério da Saúde e parceiros distribuíram cerca de 1.316.020 mosquiteiros nos 12 municípios da província, constituindo uma cobertura de 90% da população total do Cuanza Sul e contribuindo para a redução dos casos de malária na província no ano de 2023.

“Antes da distribuição dos mosquiteiros no primeiro semestre de 2022, a província registou cerca de 423.249 casos de malaria,” diz Felix Espalhado. “No mesmo período do ano 2023, após a distribuição dos mosquiteiros, a província registou 382.030 casos, representando uma redução de 10% dos números de incidências de malária.” 

Para o responsável provincial do programa de combate a malária, a redução observada em 2023 é resultado de um leque de actividades desenvolvidas pelo Ministério da Saúde, PNUD e parceiros, que garantiram a distribuição massiva e o uso de mosquiteiros, acesso ao diagnóstico e tratamento da doença, bem como na melhoria das competências dos prestadores de serviços.

Felix Espalhado acrescenta também que houve uma redução na incidência de óbitos na província graças a distribuição dos mosquiteiros e da intervenção dos agentes comunitários nos diferentes municípios. Dados recolhidos indicam que a província registou cerca de 800 óbitos causados pela malária em 2022 e 352 no ano de 2023, constituindo uma redução de cerca de 56% de incidência de malária.

O coordenador provincial considera que a forma eficaz de prevenir a malária seja o tratamento correcto e preventivo por meio de diagnóstico apurado e com medicamentos de qualidade. Neste âmbito, a província tem estado a observar um abastecimento regular na distribuição de medicamentos a nível de todas unidades sanitárias, assegurando assim o combate continuo à tuberculose e a malária nos 12 municípios da província do Cuanza Sul.

Fim