Fogareiro sustentável reduz custos financeiros das mulheres vendedoras em Luanda

4 de October de 2023
Feliciana Cassua, beneficiária do projecto, vende seus productos utilizando fogareiro melhorado em Luanda

Feliciana Cassua, beneficiária do projecto, vende seus productos utilizando fogareiro melhorado em Luanda

O fogareiro sustentável é uma iniciativa do Ministério do Ambiente, em parceria com o PNUD Angola através do projecto "Promoção da Cadeia de Valor do Carvão Vegetal Sustentável em Angola” financiado pelo Fundo Global do Ambiente (GEF), que reduz os custos financeiros das mulheres vendedoras em Luanda, para além de preservar o meio ambiente. Com a sua utilização, as vendedoras usam menos carvão, e conseguem confeccionar os seus produtos em menos tempo, o que constitui motivo de grande satisfação para as usuárias. 

Feliciana Cassua, de 23 anos de idade, é uma vendedora que se beneficiou do projecto e fala das vantagens destes fogareiros e de como esta iniciativa tem mudado a sua vida. 

“Nós recebemos estes fogareiros no ano passado e vimos que tem várias vantagens, entre elas: reduz os nossos custos financeiros na compra do carvão, tem uma impressionante rapidez na cozinha e também faz pouco fumo,” diz ela.

Para a Feliciana e suas companheiras vendedoras, o fogareiro sustentável revolucionou os seus negócios e tem contribuído para a sua saúde, considerando que o fogareiro é bastante leve e pode ser facilmente transportado.

“Antes nós usávamos os fogareiros normais e colocávamos pedra por baixo. Depois disso, metíamos a grelha e começávamos a assar, mas gastava muito carvão, e nos deixava com dores de coluna. Mas com os fogareiros melhorados, nós compramos apenas carvão de 500.00 KZ e podemos usar por dois dias. É uma bênção!” exclama Feliciana.

Nas artérias de Luanda, Feliciana comercializa banana assada com ginguba para vários clientes

Nas artérias de Luanda, Feliciana comercializa banana assada com ginguba para vários clientes

Graças a esta iniciativa, Feliciana Cassua diz que consegue sustentar os seus filhos através do seu rendimento diário, apesar dos desafios de acordar muito cedo para comprar os productos nos mercados. Com relação aos lucros, ela afirma que, dependendo do dia e o fluxo de clientes, o seu trabalho permite – lhe auferir 30 a 40 mil Kwanzas por dia – uma vez que seus principais clientes são alunos, estudantes e trabalhadores das diferentes instituições públicas e privadas de Luanda.

Os fogareiros sustentáveis ou melhorados, como também são chamados, são feitos com chapa galvanizada que permite melhor resistência a ferrugem e tem uma câmera isoladora na parte interior, fazendo com que o calor permaneça dentro e que se produza pouco fumo. Por esta razão, o fogareiro melhorado garante menos poluição ao ambiente e faz com que menos árvores sejam abatidas para serem transformadas em carvão.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, estima-se que a fumaça gerada por fogareiros é extremamente tóxica e que seja responsável pela morte de 4 milhões de pessoas anualmente. 

Segundo o coordenador do projecto "Carvão Vegetal Sustentável”, Ernesto Escórcio, o fogareiro melhorado foi desenvolvido em parceria do Ministério do Ambiente e o PNUD, após a realização de vários estudos em coordenação com a Universidade de Cordoba da Espanha, com o objectivo de facilitar as mulheres vendedoras a desenvolverem as suas actividades comerciais nas artérias da cidade de Luanda, propriamente, as magogas, banana assada e ginguba, garantindo o seu sustento de modo ecológico, limpo e seguro. 

Ernesto Escórcio (esquerda), coordenador do projecto, durante um trabalho de campo na província do Huambo

Ernesto Escórcio (esquerda), coordenador do projecto, durante um trabalho de campo na província do Huambo

“Nós queremos fazer com que as mulheres comerciantes gastem menos dinheiro na compra do carvão, pois o fogareiro é economicamente viável, permitindo a redução considerável do gasto e consumo diário do carvão na comercialização dos seus productos,” diz o coordenador.

Educar as comunidades

Ernesto Escórcio realçou também a importância e necessidade de se educar as comunidades na adopção e uso dos fogareiros sustentáveis, não só para ajudar a preservar o meio ambiente, mas também para ajudar as mulheres vendedoras a gerar outras formas de rendimento através do melhor aproveitamento dos briquetes. O "briquete” é o pó do carvão que resta nos fornos já explorados, juntando com argila, estrume de gado, resultando num tipo de combustível melhorado e sustentável.

Criar empregos para jovens

Os fogareiros são produzidos localmente por um grupo de jovens angolanos e isso contribui na formação profissional e criação de empregos nas comunidades. Fernando Ferraz (35 anos de idade) é formado em serralharia e soldadura industrial e fez recurso aos seus 20 anos de experiência para contribuir na concepção e produção dos primeiros fogareiros, bem como na formação técnica e profissional dos primeiros jovens técnicos na produção dos fogareiros sustentáveis.

Em 2020, Fernando liderou uma equipa de três técnicos na produção de cerca de mil fogareiros que foram usados inicialmente de forma experimental, que com o tempo, verificou – se eficiente e com boa aderência por parte dos utentes, incluindo a Feliciana Cassua.

“Nós vimos que os fogareiros melhorados começaram a ter uma boa aderência por parte das mulheres vendedoras, por isso o Ministério do Ambiente confiou – nos a responsabilidade de produzir os primeiros protótipos e depois começamos a trabalhar na produção em massa com mais jovens, incluindo mulheres.”

Fernando (terceiro da direita a esquerda), na companhia de seus formandos e colegas de produção de fogareiros

Fernando (terceiro da direita a esquerda), na companhia de seus formandos e colegas de produção de fogareiros

Dois anos depois, em parceria com o Centro de Formação Profissional de Construção Civil (CENFOC), Fernando treinou cerca de 60 jovens (homens e mulheres), incluindo pessoas com deficiência, muitos dos quais encontram – se empregados em instituições públicas e privadas, sendo que outros desempenham suas actividades por conta própria.

Desde 2020, mais de 7.551 fogareiros melhorados foram produzidos e estão a ser distribuídos nas comunidades e periferias de Luanda, nomeadamente, nas Mabubas, no município do Cazenga e no Petrangol, com o apoio dos parceiros de implementação tais como Dom Bosco, que ajudam na identificação das mulheres vendedoras nas praças situadas em zonas vulneráveis.

O projecto é também implementado de forma piloto nas províncias do Huambo e Cuanza Sul pela Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo (ADPP), sendo que a primeira fase começou em 2017 e a segunda fase em 2019.