PNUD participa do II Fórum Latino-Americano de Economia Verde

Evento da agência de notícias EFE discutiu desafios ambientais da América Latina.

3 de October de 2024
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Foto: Sebastiao Moreira/EFE

São Paulo – A legislação ambiental com garantias, a gestão adequada de resíduos e o acesso a água potável são alguns dos principais desafios que a América Latina enfrenta, segundo especialistas reunidos nesta semana (2 e 3/10) no II Fórum Latino-Americano de Economia Verde, em São Paulo. Autoridades regionais e especialistas em meio ambiente concordaram que o planeta está passando por um “momento crucial” e “grave”, em um contexto de catástrofes naturais cada vez mais frequentes, como a grave seca que vários países sul-americanos estão atravessando. O representante residente do PNUD no Brasil, Claudio Providas, foi um dos convidados especiais do evento.

A transição ecológica está se tornando um desafio complexo para uma região extremamente desigual, sob pressão para transformar suas economias antes de ter alcançado nível pleno de desenvolvimento. Mas, para o diretor-geral adjunto da FAO e representante regional desse órgão para a América Latina, Mario Lubetkin, “a América Latina e o Caribe têm o potencial de liderar a sustentabilidade” em áreas como a produção de alimentos. “A região tem a capacidade de produzir alimentos mais nutritivos e, ao mesmo tempo, proteger o planeta e os recursos naturais”, disse ele em discurso virtual.

No entanto, a América Latina e o Caribe ainda têm uma série de desafios pela frente para acelerar a chamada economia verde. O ministro da Agricultura do Chile, Esteban Valenzuela, declarou que tanto seu país quanto a América Latina estão “muito atrasados” no uso de resíduos vegetais para fertilizantes e que é necessário avançar nessa área. De acordo com Valenzuela, no Chile apenas 1% desses resíduos é convertido em composto agrícola, em comparação com 40% na Europa. “Uma transição justa requer redirecionar recursos, favorecer atores, e não apenas retórica; precisamos ver resultados concretos”, disse ele no Fórum Latino-Americano.

Em seu discurso, o DJ indígena e comunicador brasileiro Eric Terena enfatizou que, para preservar a Amazônia, a primeira coisa que o Brasil e o resto da América Latina devem fazer é “legislar” de forma unificada para manter certos padrões regionais. “Todos os dias, os parlamentos tentam regularizar o desmatamento e instalar novas formas de extração para exportar matérias primas”, criticou.

O presidente da Agência EFE, organizadora do fórum, Miguel Ángel Oliver, advertiu, por sua vez, que “a superexploração dos recursos está nos levando a um beco sem saída” e pediu que todos ouvissem e atendessem ao planeta. Organizações internacionais e da sociedade civil também enfatizaram a importância de encontrar soluções simples e inovadoras para garantir o acesso à água potável em regiões remotas da Amazônia. Uma dessas soluções apresentou no encontro a diretora executiva da ONG WATERisLIFE, Cote Terre. Ele apresentou um microfiltro que captura bactérias e todos os tipos de poluentes e, em instantes, transformou a água marrom de uma garrafa em um líquido translúcido sem gosto ruim.

Povos indígenas – O segundo dia do fórum promoveu debates sobre os desafios da transição energética e medidas para melhorar a resiliência das populações vulneráveis às mudanças climáticas. A crise do clima foi um dos temas em destaque em vista das secas e incêndios no Brasil, no Paraguai e na Bolívia, entre outros países da região. O Pantanal, maior área úmida do mundo, está sofrendo neste ano a pior escassez de água dos últimos 70 anos, de acordo com o secretário de meio ambiente do Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck. O estado abriga parte do bioma. São Paulo, por sua vez, estado mais industrializado do Brasil, registrou 2.522 incêndios apenas em setembro, número mais elevado para o mês desde 1998. Alguns desses incêndios foram provocados por criminosos, segundo autoridades. Nesse contexto, as populações mais vulneráveis são as primeiras a sentir os efeitos das catástrofes, cada vez mais frequentes e danosas.

“Os povos indígenas no Brasil são sete vezes mais afetados pelas mudanças climáticas”, alertou o representante do PNUD no Brasil, Claudio Providas. Para ele, é necessário “avançar” e “ver onde estão as prioridades”. Nesse sentido, apontou o valor recorde de gastos militares globais no ano passado, que chegou a US$ 2,4 trilhões, quantia consideravelmente menor em comparação com o que se investe em desenvolvimento.

No entanto, existem soluções para mitigar e se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas, embora muitas delas estejam em nível micro. As favelas do Brasil, onde vivem cerca de 20 milhões de pessoas, geralmente são construídas em áreas de risco de desastres climáticos. Essas comunidades têm se mobilizado para implementar iniciativas para mitigar os efeitos da mudança global do clima. Um desses projetos é o “Agrofavela-Refazenda”, horta de 900 metros quadrados no meio da favela de Paraisópolis, em São Paulo, que também capacita “agricultoras urbanas” por meio de um curso para mulheres, muitas delas vítimas de violência masculina.

Os alimentos produzidos de forma sustentável também são o foco de outro projeto, o “Mãos de Maria”, que produz panelas para famílias em situação de insegurança alimentar, de acordo com Gilson Rodrigues, presidente do G10 Favelas, uma organização sem fins lucrativos que reúne líderes das maiores favelas do país.

Outro ator importante para o meio ambiente são as catadoras e catadores de materiais recicláveis, que atuam na gestão de resíduos, fonte econômica potencialmente sustentável e ainda pouco explorada na América Latina. No Brasil, a maioria deles trabalha informalmente, embora sejam responsáveis por 90% de todo o lixo reciclado no país. Em média, recebem US$ 100 por tonelada de material coletado. “Faltam incentivos, regulamentações e políticas públicas para incluir esses recicladores informais”, afirmou a diretora executiva da Pimp My Carroça, Nanci Darcolléte. A ONG busca dar mais dignidade ao trabalho dos chamados ‘catadores’.

Diretor de ESG da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente, que reúne empresas do setor, Carlos Henrique Rossin defendeu o incentivo à reciclagem por meio da cobrança de uma taxa dos cidadãos pelo lixo e da isenção de impostos sobre a atividade.

O fórum foi patrocinado pela ApexBrasil, a agência brasileira de promoção de exportações e investimentos, e pela Norte Energia, operadora de Belo Monte, a quarta maior usina hidrelétrica do mundo, com o apoio da Vivo e da Câmara Espanhola de Comércio no Brasil.

Texto produzido com informações da EFE.