Crises globais em série ameaçam sobrevivência humana. Agenda 2030 é caminho a seguir

Relatório lançado pela ONU durante Fórum Político de Alto Nível examina o progresso dos ODS em face da COVID-19, conflitos e mudança global do clima

7 de July de 2022

Crianças caminham em mangue no Brasil.

PNUD Brasil

A crise climática, a pandemia de COVID-19 e o aumento do número de conflitos em todo o mundo colocaram em risco os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), de acordo com o Relatório de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2022, divulgado nesta quinta-feira (7) pelas Nações Unidas.

O relatório destaca a gravidade e a magnitude dos desafios pela frente, com crises em série e cruzadas, afetando alimentação e nutrição, saúde, educação, meio ambiente e paz e segurança, assim como todos os demais ODS, o plano da comunidade global para sociedades mais resilientes, pacíficas e igualitárias.

Consequências da COVID-19

De acordo com os dados apresentados no relatório, a pandemia de COVID-19 causou estragos em todos os Objetivos e seus efeitos ainda estão longe de terminar.

O número de mortes provocadas direta e indiretamente pela doença foi de 15 milhões até o fim de 2021. Mais de quatro anos de progresso no alívio da pobreza foram eliminados, empurrando mais 93 milhões de pessoas em todo o mundo para a pobreza extrema em 2020.

Estima-se que 147 milhões de crianças tenham perdido mais da metade de suas aulas presenciais nos últimos dois anos. A pandemia também interrompeu severamente os serviços essenciais de saúde, prejudicando o progresso conquistado com muito esforço no ODS 3.

Emergência climática

Enquanto isso, o mundo está à beira de uma catástrofe climática, da qual bilhões de pessoas já estão sentindo as consequências. As emissões de CO2 relacionadas à energia para 2021 aumentaram 6%, atingindo o nível mais alto de todos os tempos e eliminando completamente os declínios relacionados à pandemia.

Para evitar os piores efeitos da mudança global do clima, conforme estabelecido no Acordo de Paris, as emissões globais de gases de efeito estufa precisarão atingir o pico antes de 2025 e depois diminuir 43% até 2030, chegando à neutralidade até 2050. Em vez disso, os compromissos dos países com a ação climática indicam que as emissões de gases de efeito estufa aumentarão em quase 14% na próxima década.

Guerra na Ucrânia

A guerra na Ucrânia está criando uma das maiores crises de refugiados dos tempos modernos. Em maio de 2022, mais de 100 milhões de pessoas foram deslocadas à força de suas casas. A crise fez com que os preços dos alimentos, combustíveis e fertilizantes disparassem, interrompeu ainda mais as cadeias de suprimentos e o comércio global, agitou os mercados financeiros e ameaçou a segurança alimentar global e os fluxos de ajuda.

O crescimento econômico global projetado para 2022 foi reduzido em 0,9 ponto percentual, devido à guerra na Ucrânia e possíveis novas ondas da pandemia.

Os países e grupos populacionais mais vulneráveis ​​do mundo são afetados desproporcionalmente. As mulheres sofreram uma maior parte das perdas de emprego, que foram combinadas com o aumento do trabalho de cuidados em casa. Evidências sugerem que a violência contra as mulheres foi exacerbada na pandemia.

Os jovens continuam a ter taxas de desemprego mais altas do que antes da pandemia, e o trabalho infantil e o casamento infantil estão aumentando. Os países menos desenvolvidos lutam com um crescimento econômico fraco, inflação crescente, grandes interrupções na cadeia de suprimentos, incertezas políticas e dívidas insustentáveis.

Um roteiro para sair da crise

O documento afirma que estamos hoje em um momento crítico: é preciso escolher entre falhar em cumprir nossos compromissos de ajudar os mais vulneráveis ​​do mundo ou intensificar esforços para resgatar os ODS e proporcionar um progresso significativo para as pessoas e o planeta até 2030.

“O roteiro estabelecido nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é claro”, afirmou o subsecretário-geral das Nações Unidas para Assuntos Econômicos e Sociais, Liu Zhenmin. “O impacto das crises é agravado quando elas estão vinculadas, e o mesmo ocorre com as soluções. Quando agimos para fortalecer os sistemas de proteção social, melhorar os serviços públicos e investir em energia limpa, por exemplo, abordamos as causas profundas do aumento da desigualdade, da degradação ambiental e das mudanças climáticas.”

O relatório também enfatiza que, para sairmos mais fortes da crise e nos prepararmos para desafios desconhecidos à frente, o financiamento de nossa infraestrutura de dados e informações deve ser uma prioridade para os governos nacionais e a comunidade internacional.

Outros fatos e números do relatório:

• As crises combinadas podem levar de 75 milhões a 95 milhões de pessoas à extrema pobreza em 2022, em comparação com as projeções pré-pandemia.

• Cerca de 1 em cada 10 pessoas em todo o mundo passa fome e quase 1 em cada 3 pessoas não tem acesso regular a uma alimentação adequada.

• A cobertura de vacinação caiu pela primeira vez em 10 anos, e as mortes por tuberculose e malária aumentaram.

• Em 2020, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou cerca de 25%, sendo os jovens e as mulheres os mais afetados.

• Em 2021, estima-se que 17 milhões de toneladas métricas de plástico foram jogadas nos oceanos, e o volume de poluição plástica nos oceanos deve dobrar ou triplicar até 2040.

• Cerca de 24 milhões de alunos do nível pré-primário ao universitário correm o risco de não regressar à escola.

• O número de usuários de Internet subiu em 782 milhões, para 4,9 bilhões de pessoas em 2021, frente a 4,1 bilhões em 2019.

• Nos países de baixo rendimento, a proporção entre custo da dívida pública e exportações aumentou de uma média de 3,1% em 2011 para 8,8% em 2020.

O Relatório de Desenvolvimento Sustentável 2022 apresenta dados fornecidos por quase 200 países. Embora o documento deste ano demonstre os terríveis impactos das crises atuais nos 17 ODS, ele demonstra que cumprir a Agenda 2030 é o remédio necessário para enfrentar os desafios globais. Alcançar os ODS exige ação transformadora urgente e abordagens baseadas em evidências em escala global.

O Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2022 está disponível em https://unstats.un.org/sdgs/report/2022/.

Fórum Político de Alto Nível

O documento foi apresentado durante o Fórum Político de Alto Nível (HLPF, na sigla em inglês), que reúne autoridades até 15 de julho em Nova York para avaliar o avanço dos países rumo à Agenda 2030 e seus 17 ODS.

O tema do HLPF 2022 é “Recuperar melhor da doença do coronavírus (COVID-19), enquanto avançamos na implementação completa da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”.

Embora o HLPF examine os efeitos específicos da COVID-19 em todos os ODS – eles foram projetados para ser interligados – o evento se concentrará particularmente naqueles relacionados à educação de qualidade (ODS 4), igualdade de gênero (ODS 5), vida na água (ODS 14), vida na terra (ODS 15) e parcerias (ODS 17).

O PNUD, como agência líder de desenvolvimento da ONU, participa do Fórum explorando sua extensa rede global de parceiros para identificar formas de acelerar os esforços e ajudar os países a se recuperarem e, ao mesmo tempo, construírem sociedades mais inclusivas e sustentáveis.

Participação do Brasil

Organizações da sociedade civil brasileira também estiveram presentes no Fórum, apresentando suas próprias análises sobre a situação dos objetivos globais no país.

Elaborado pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 (GT Agenda 2030), que reúne 60 organizações da sociedade civil, o Relatório Luz 2022 apresentou um panorama da implementação da Agenda 2030 no Brasil, cobrindo as áreas sociais, econômicas e ambientais.

O GT Agenda 2030 faz 116 recomendações no documento. “Essas recomendações são parte da nossa contribuição para colocar o país no rumo certo, sem deixar ninguém para trás”, diz a coordenadora técnica e editorial do Relatório Luz 2022, Alessandra Nilo, que também é coordenadora-geral da ONG Gestos e cofacilitadora do GT Agenda 2030.

Com versões disponíveis em português e inglês, o documento foi lançado em evento paralelo na quarta-feira (7), durante o Fórum Político de Alto Nível.