Novos dados mundiais do PNUD mostram que preconceitos de gênero continuam enraizados

Falta de progresso no Índice de Normas Sociais de Gênero reflete violações dos direitos humanos e é um desperdício social mundo afora

12 de June de 2023
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O mais recente relatório do Índice de Normas Sociais de Gênero (INSG) revela que não houve melhoria nas crenças contra as mulheres em uma década, com quase 9 em cada 10 homens e mulheres em todo o mundo ainda mantendo tais preconceitos hoje. Metade da população mundial ainda acredita que os homens são melhores líderes políticos do que as mulheres, e mais de 40 por cento acredita que os homens são melhores executivos de negócios do que as mulheres. Chocantes 25 por cento das pessoas acreditam que é justificável um homem bater em sua mulher, de acordo com o novo relatório lançado hoje pelo PNUD, refletindo os dados mais recentes da Pesquisa Mundial de Valores.

O relatório argumenta que essas crenças criam obstáculos enfrentados pelas mulheres, manifestos na desmontagem dos direitos das mulheres em muitas partes do mundo, com movimentos contra a igualdade de gênero ganhando força e, em alguns países, um aumento das violações dos direitos humanos. Essas normas sociais também são refletidas na grave sub-representação das mulheres em cargos de liderança. Em média, a parcela de mulheres como chefes de estado ou chefes de governo tem se mantido em torno de 10 por cento desde 1995 e no mercado de trabalho as mulheres ocupam menos de um terço dos cargos gerenciais. O relatório também destaca uma desconexão entre o progresso das mulheres na educação e no empoderamento econômico. As mulheres têm mais habilidades e níveis de educação do que nunca, porém, mesmo nos 59 países onde as mulheres agora têm melhores índices educacionais que os homens, a diferença média de renda entre os gêneros permanece em 39 por cento a favor dos homens.

"Normas sociais que prejudicam os direitos das mulheres também são prejudiciais para a sociedade de forma mais ampla, prejudicando a expansão do desenvolvimento humano. Na verdade, a falta de progresso nas normas sociais de gênero está ocorrendo em meio a uma crise de desenvolvimento humano: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) global diminuiu em 2020 pela primeira vez na história – e novamente no ano seguinte. Todos têm a ganhar ao garantir liberdade e autonomia para as mulheres", afirma o chefe do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD global, Pedro Conceição.

O estudo lançado hoje enfatiza que os governos desempenham um papel crucial na mudança das normas sociais de gênero. Por exemplo, políticas de licença parental têm alterado as percepções sobre responsabilidades no trabalho de cuidado, e reformas no mercado de trabalho levaram a uma mudança de crenças em relação ao emprego das mulheres.

"Um ponto importante para começar é reconhecer o valor econômico do trabalho de cuidado não remunerado. Isso pode ser uma forma muito eficaz de desafiar as normas de gênero em torno da forma como o trabalho de cuidado é visto. Em países com os maiores níveis de preconceito de gênero contra as mulheres, estima-se que as mulheres despendem acima de seis vezes mais tempo do que os homens em trabalho de cuidado não remunerado", afirma a diretora da Equipe de Gênero do PNUD global, Raquel Lagunas.

Isso inclui investir em leis e medidas políticas que promovam a igualdade das mulheres na participação política, ampliar os mecanismos de seguro, como fortalecer os sistemas de proteção social e de cuidado, e incentivar intervenções inovadoras que possam ser particularmente eficazes para desafiar normas sociais prejudiciais, atitudes patriarcais e estereótipos de gênero. Por exemplo, combater discursos de ódio online e desinformação de gênero pode ajudar a mudar normas de gênero difundidas em direção a uma maior aceitação e igualdade.

Além disso, o relatório recomenda abordar diretamente as normas sociais por meio da educação para mudar as visões das pessoas, políticas e mudanças legais que reconheçam os direitos das mulheres em todas as esferas da vida e uma maior representação das mulheres em processos de tomada de decisão e políticas.

 

 Acesse o relatório em: https://hdr.undp.org/content/2023-gender-social-norms-index-gsni