Projeto beneficia indígenas e agricultores familiares de Pará e Mato Grosso

Parceria de Eletrobras, PNUD e BNDES apoia produção de mandioca de indígenas munduruku no Pará; agricultores familiares de Mato Grosso receberão capacitações em sistemas agroflorestais.

7 de January de 2025
Instituto Ouro Verde

Instituto Ouro Verde realiza oficina de criação de aves em sistemas agroflorestais.

IOV

A criação de políticas e projetos alinhados à Agenda 2030 e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) precisa contemplar as particularidades de cada região brasileira, considerando seus contextos socioeconômicos, históricos e ambientais para a melhoria dos indicadores de qualidade de vida. 

Entender a realidade de um território torna possível impulsionar o bem-estar das populações e reduzir desigualdades, protegendo o meio ambiente. Desse modo, fortalecer uma ampla rede de atores territoriais é necessário para que os ODS sejam atingidos. 

Foi levando em consideração essa premissa que o projeto “Acelerando o Desenvolvimento”, uma iniciativa da Eletrobras, por meio da Companhia Hidrelétrica Teles Pires (CHTP), em parceria com o PNUD e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), contribuiu para fortalecer mecanismos de financiamento para projetos inovadores em Alta Floresta, Paranaíta (MT) e Jacareacanga (PA), área de atuação da companhia. 

“O acesso a recursos financeiros facilita a execução de iniciativas que promovam melhorias concretas para as comunidades locais, permitindo que elas avancem de maneira sustentável e equitativa”, afirma o gerente de meio ambiente da CHTP, Ivan Bichara. “Isso cria um impacto positivo de longo prazo, fomentando um ciclo virtuoso de desenvolvimento e inclusão.” 

Seis projetos foram selecionados na Chamada de Inovação para receber apoio financeiro de R$ 90 mil, sendo dois em Jacareacanga, dois em Alta Floresta e dois em Paranaíta.  Os critérios de seleção incluíram ações relacionadas a temas ou cadeias produtivas consideradas prioritárias em estudos elaborados no contexto do projeto “Acelerando o Desenvolvimento”. 

Acesse os estudos:

Diagnóstico Situacional de Indicadores ODS - Alta Floresta (MT)

Diagnóstico Situacional de Indicadores ODS - Paranaíta (MT)

Diagnóstico Situacional de Indicadores ODS - Jacareacanga (PA)

O financiamento de projetos inovadores na região amazônica é fundamental para promover um desenvolvimento sustentável que respeite e valorize a riqueza social, cultural e ambiental desse território único, na avaliação da coordenadora do escritório de projetos do PNUD em Belém (PA), Kassya Fernandes.

“Iniciativas que integram novas tecnologias, saberes tradicionais e práticas sustentáveis não apenas impulsionam a economia local, mas também criam soluções efetivas para desafios como a conservação da biodiversidade, o combate ao desmatamento e a promoção de direitos das populações indígenas e comunidades tradicionais”, completa.

Em Alta Floresta, o Instituto Ouro Verde (IOV), beneficiário do projeto, nasceu há 25 anos e tem como missão promover o fortalecimento e a organização social da agricultura familiar em dez municípios na Amazônia na região norte de Mato Grosso. 

A instituição tem atuação em comunidades agrícolas e, com o projeto “Acelerando o Desenvolvimento”, criará um espaço físico móvel que será utilizado para fomentar pesquisas e técnicas voltadas à implementação de sistemas agroflorestais na produção agroecológica. 

Os sistemas agroflorestais (SAFs) são formas de uso e manejo sustentável da terra que combinam o plantio de árvores (florestais) com cultivos agrícolas e/ou criação de animais, de forma integrada. Essa combinação visa criar um ambiente produtivo mais diversificado, eficiente e sustentável, imitando os ecossistemas naturais.

“A ideia é que a área seja essa vitrine que vai dinamizar atividades de manejo, de formação de pequenos agricultores”, conta a diretora-presidente do IOV, Ana Carolina França. Segundo ela, a região de Alta Floresta ficou conhecida como o arco do desmatamento, e há chance de mudar esse cenário. “É uma região de fronteira agrícola, de concentração de terra. (...) Ainda existem muitos conflitos e demandas socioambientais”, contextualiza. 

“Passamos por diversos ciclos (econômicos), e este último foi o das grandes lavouras, que foram mudando a paisagem. Nosso propósito no instituto é buscar ações que favoreçam a resiliência de famílias agrícolas para evitar sua saída do território, permitir que elas tenham condições de permanecer da melhor forma possível.”

Atualmente, 70% dos alimentos consumidos pelas famílias no Mato Grosso são produzidos pela agricultura familiar, segundo a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) e cerca de 120 mil famílias no estado exercem a atividade. Já o agronegócio de grande escala frequentemente tem como um de seus principais focos a exportação.

Segundo a engenheira florestal do IOV, Aline Nava,o apoio do projeto “Acelerando o Desenvolvimento” viabilizará um espaço de aprendizagem para os produtores rurais, que poderão conhecer as técnicas agroflorestais e de silvicultura para replicá-las em suas propriedades. 

O recebimento dos financiamentos foi antecedido por capacitações realizadas com as associações e instituições locais selecionadas nos temas de operação e gestão, lembra o gerente de meio ambiente da CHTP. “O objetivo é que haja mais eficiência e eficácia dos serviços prestados, maior engajamento comunitário e formação de redes colaborativas que expandam o alcance das ações.”

“Além disso, a capacitação contribui para a adoção de melhores práticas de governança, maior acesso a informações e recursos e o desenvolvimento de soluções inovadoras para atender às demandas locais.” 

Coopervila– Outra iniciativa apoiada pelo projeto “Acelerando o Desenvolvimento” é a Coopervila, cooperativa de produtores hortifrutigrangeiros de Paranaíta (MT). Segundo o presidente da organização, Sulivan Fernando da Silva, a entidade trabalha para melhorar a qualidade de vida e aumentar a renda dos produtores rurais na cidade.

“Algumas famílias começaram a fazer parte da Coopervila com uma renda de 400 reais por mês e, hoje, uma década depois, algumas delas chegam a ter renda de 7 mil, 10 mil reais, então a gente entende a relevância do nosso trabalho”, declara.

Em parceria com o projeto, a cooperativa vai profissionalizar a produção e a comercialização de ovos de galinha, capacitando agricultores familiares e alinhando a produção às normas ambientais e sanitárias. “Queríamos fortalecer a cadeia do granjeiro, mas precisávamos construir um plano e incentivar novos produtores. O projeto veio em um momento crucial”, diz Sulivan.   

“As ações irão além do fortalecimento institucional, buscando também empoderar indivíduos e comunidades”, garante Bichara, da CHTP, ao falar sobre como a parceria com associações impulsiona o desenvolvimento territorial. “A ideia é fomentar o protagonismo local, incentivando soluções comunitárias e fortalecendo a coesão social.” 

O compartilhamento de experiências na própria comunidade também é uma forma de manter tradições ancestrais. Entre as organizações escolhidas pela Chamada de Inovação, Jacareacanga (PA) é representada por duas associações indígenas munduruku que produzem farinha de mandioca. 

De acordo com o coordenador da Associação Indígena Pusuru, João Kaba, que trabalha desde 1992 na defesa dos direitos indígenas, o projeto fortalece as lideranças locais. Para ele, é fundamental que os caciques recebam apoio técnico e financeiro para replicar conhecimentos ancestrais nas comunidades indígenas. 

líder indígena joão kaba

O coordenador da Associação Indígena Pusuru, João Kaba.

Luciana Bruno/PNUD

Além de trabalhar com a produção de farinha munduruku, a Pusuru também poderá se dedicar ao combate à insegurança alimentar na comunidade, expandindo a produção de aves de galinha caipira, uma vez que muitas aldeias da região são afetadas pela falta de peixes no rio Tapajós e seus afluentes, diz o líder indígena.

O presidente da Associação Indígena Topagã Emanaeyu, Haroldo Poxo, também acredita que a iniciativa beneficia a população da aldeia Sai Cinza, em Jacareacanga. “Muitas vezes, os parentes perdem a produção de mandioca por não terem forno. Eles têm casa de farinha, mas não têm forno. Isso prejudica os produtores”, afirma, lembrando que o dinheiro recebido resolverá esse problema.

equipamentos

Chegada de equipamentos à Associação Indígena Topagã Emanaeyu.

Associação Indígena Topagã Emanaeyu

Igualdade de gênero – O impulso à igualdade de gênero perpassou todo o projeto “Acelerando Desenvolvimento”, que apoiou em Paranaíta (MT) a Associação de Mulheres do Porto de Areia (AMPA), produtora de doces à base de produtos oriundos de suas propriedades rurais, como castanha, buriti, coco, amendoim, abóbora, leite e mel. A produção é feita de forma sustentável, com práticas que promovem a preservação ambiental.

Para promover uma experiência de ecoturismo gastronômico, a AMPA, em colaboração com o projeto, pretende reposicionar a associação por meio de ações de marketing de vendas e da realização de oficinas sobre práticas de produção orgânica.

“Além de mapear os pontos turísticos, queremos ampliar o comércio local, fazer com que mais pessoas conheçam nossos produtos”, diz a presidente da AMPA, Iraci Tenuti. A ação visa aumentar o lucro das mulheres atendidas pela associação, melhorando a qualidade de vida das famílias na região. 

Sobre o projeto

Lançado em 2021, o projeto “Acelerando o Desenvolvimento” visa promover a formação cidadã e as capacidades dos municípios envolvidos na iniciativa, de forma alinhada à Agenda 2030 e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A iniciativa fez diagnósticos sobre o desenvolvimento territorial à luz dos ODS e fortalece as capacidades dos atores locais em relação à Agenda 2030. São implementadas atividades de formação e assessoria para qualificar agentes públicos e privados na elaboração de planos, programas e projetos relacionados aos Objetivos Globais.   

Adaptando-se à realidade local, o projeto fortalece práticas de participação social, especialmente entre mulheres, jovens e populações em situação de vulnerabilidade. A iniciativa também fomenta pesquisas sobre as cidades amazônicas, atrai investimentos em soluções tecnológicas e apoia a construção de estratégias municipais de resiliência climática. 

Um dos principais resultados do projeto foi a capacitação das entidades municipais. A elaboração de diagnósticos locais, análise do Plano Plurianual (PPA) à luz da Agenda 2030 e formações para gestores e servidores municipais fortaleceram a compreensão e a implementação eficaz de políticas públicas.

Nesse contexto, uma plataforma online foi atualizada para oferecer formação gratuita sobre a Agenda 2030. O projeto incluiu também a capacitação de vereadores e Câmaras Municipais, com a produção de relatórios de progresso e monitoramento constante dos compromissos de alinhamento aos ODS.

 

Outros resultados do “Acelerando o Desenvolvimento” incluem a dinamização das cadeias produtivas prioritárias na região, explorando seu potencial para impulsionar o desenvolvimento sustentável. Estudos aprofundados, medidas de dinamização e a criação de um programa de financiamento e editais de projetos catalisaram recursos para a implementação da Agenda 2030. Um programa de captação de organizações foi lançado, incentivando a construção, implementação e avaliação de projetos.  

 

Já um terceiro produto teve como foco a criação de um mecanismo de diálogo contínuo na região. Isso ocorreu por meio do mapeamento de lideranças sociais e empresariais, de capacitação para engajamento, a criação de comissões municipais e de mesas de diálogo permanentes. 

 

O “Acelerando Desenvolvimento” visa não apenas fortalecer as entidades municipais, mas também criar uma rede colaborativa e sustentável, comprometida com a realização dos ODS. A intenção do PNUD é que a iniciativa sirva como referência para outras regiões, promovendo um impacto positivo e duradouro.