PNUD propõe medir pobreza multidimensional com foco nas mulheres para erradicar pobreza na região

Análises mais precisas são essenciais para formulação de políticas sensíveis a gênero na América Latina e no Caribe.

20 de October de 2023

 

Cidade do Panamá, Panamá – Derrubar as barreiras sistêmicas à igualdade de gênero nunca foi tão urgente para reduzir as desigualdades, razão pela qual o PNUD apresenta proposta de Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) com foco nas mulheres com dados de 10 países da região (Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Honduras, México, Panamá, República Dominicana e Uruguai).

A análise revela que 27,4% das mulheres latino-americanas e caribenhas vivem na pobreza multidimensional. A intensidade da pobreza, medida como a parcela média de privação entre as mulheres pobres, é de 48%. Ou seja, em média, as mulheres em situação de pobreza enfrentam privações em quase cinco dos dez indicadores que compõem o IPM.

“Acabar com a pobreza em todas as suas dimensões exige abordar as barreiras estruturais que as mulheres enfrentam. Uma análise precisa de como as mulheres vivenciam a pobreza multidimensional é fundamental para atender suas necessidades específicas, identificar os obstáculos que as impedem de sair da pobreza e formular recomendações de políticas transformadoras em termos de gênero”, afirma a diretora regional do PNUD para América Latina e Caribe, Michelle Muschett,

A feminização da pobreza na região é um fenômeno bem documentado. De acordo com dados da CEPAL de 2019 – antes da COVID-19 –, para cada 100 homens pobres, havia 113 mulheres pobres na mesma condição, enquanto em 2021 – pós-pandemia –, esse número aumentou para 100 homens vivendo em lares pobres na região e 116 mulheres em situação semelhante. Isso funciona como uma barreira estrutural para as sociedades, para o desenvolvimento sustentável e para o cumprimento da Agenda 2030, uma vez que limita a autonomia econômica, física e de tomada de decisões das mulheres e de suas famílias.

Nos dez países analisados, 19% das mulheres urbanas vivenciam a pobreza multidimensional; essa porcentagem é quase três vezes maior para as mulheres rurais, chegando a 58%. O estudo também mostra que as principais privações enfrentadas pelas mulheres em situação de pobreza multidimensional nesses países estão relacionadas à “situação desfavorável de atividade” – trabalho doméstico e de cuidado não remunerado, informalidade ou trabalho assalariado abaixo do salário mínimo – e à "falta de acesso à Internet", com 66,3% e 50,6% das mulheres adultas, respectivamente.

Essa proposta está estruturada em cinco dimensões e 21 indicadores: saúde e violência, educação e acesso a tecnologias de informação e comunicação, trabalho, moradia e acesso a serviços básicos, e direitos econômicos e participação. O índice destaca a urgência de coletar dados sensíveis ao gênero nas pesquisas domiciliares para medir com eficácia a pobreza de gênero e oferece recomendações para garantir a desagregação dos dados de acordo com critérios relevantes, como idade, etnia, deficiência, área geográfica, identidade de gênero, orientação sexual, religião, status migratório, nacionalidade, nível de renda, maternidade e idade dos dependentes para analisar a interseccionalidade da privação para as mulheres. O índice também sugere a inclusão de indicadores relacionados ao uso do tempo, à violência e à saúde sexual e reprodutiva em pesquisas futuras.

A análise recomenda ainda a implementação de políticas públicas em quatro áreas-chave para promover a transformação sensível ao gênero: proteção social, sistemas abrangentes de cuidados, políticas ativas do mercado de trabalho e sistemas fiscais justos, além de considerar os desafios e as discriminações específicas das mulheres em sua diversidade, abordar seu valor econômico, garantir sua segurança e melhorar sua qualidade de vida.

Apesar dos avanços, o estudo destaca as complexas realidades da pobreza ainda enfrentadas pelas mulheres na América Latina e no Caribe e busca contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas transformadoras de gênero, possibilitando o desenvolvimento e o empoderamento das mulheres, bem como a proteção de décadas de progresso.

O PNUD propõe três estratégias às tomadoras e aos tomadores de decisão para incorporar uma perspectiva de gênero na medição da pobreza multidimensional: 1) integrar indicadores sensíveis ao gênero nos Índices de Pobreza Multidimensional existentes; 2) analisar os Índices de Pobreza Multidimensional a partir de uma perspectiva de gênero; e 3) desenvolver um IPM específico para mulheres.

Faça o download aqui da proposta do Índice de Pobreza Multidimensional e Sensível ao Gênero do PNUD América Latine e Caribe.